segunda-feira, 15 de abril de 2024

Percepções sobre o Novo Ensino Médio

 Na semana passada, a Unesco divulgou sua pesquisa sobre a percepção de estudantes, professores e gestores a respeito do Novo Ensino Médio, aprovado em 2017 e já em vias de alteração no Congresso. Resultados preliminares divulgados em dezembro já haviam identificado alto grau de insatisfação, mas o detalhamento completo dos motivos citados por cada grupo revela nuances e diferenças entre eles, evidenciando mais uma vez o quão complexa é a implementação de uma reforma que altera significativamente a organização escolar.

A maioria dos estudantes (55%), gestores (66%) e professores (76%) disse estar insatisfeito com as mudanças e, entre alunos e docentes, a maioria afirma que o nível de informação ou conhecimento era insuficiente (52% dos professores e 55% dos jovens), situação que é um pouco menos pior entre diretores, vice-diretores e coordenadores pedagógicos (42%). Como destacado na divulgação da pesquisa, as taxas de insatisfação são menores entre aqueles que disseram estar, em algum grau, bem-informados. Por um lado, pode ser um indício de que, onde a implementação foi melhor, a resistência foi menor. Por outro, percentuais tão altos de insatisfação e desconhecimento confirmam o quanto o poder público tem falhado na condução da reforma.

Outra evidência no distanciamento entre a promessa e a prática está na oferta de formação técnica e profissional. Aqui há alto grau de concordância (61% dos professores, 68% dos gestores e 85% dos alunos) em relação à possibilidade de integração dessa área no Novo Ensino Médio. No entanto, 67% dos gestores disseram que em suas escolas não foi oferecido aos alunos nenhum itinerário de formação profissionalizante.

Apesar das taxas majoritárias de insatisfação, quando a pergunta é em relação ao modelo, o padrão de resposta varia significativamente entre grupos. A Unesco questionou se o Novo Ensino Médio estava contribuindo para o fortalecimento do protagonismo juvenil; para o maior interesse dos(as) jovens em se manter na escola; se favorecia a preparação básica do(a) jovem para o mundo do trabalho; se promovia a elevação da qualidade do ensino no país; e se desenvolvia competências e habilidades dos(as) jovens necessárias para atender às demandas da sociedade contemporânea.

Entre professores, em todas essas questões o apoio foi minoritário. Entre gestores também, com exceção do protagonismo juvenil. Já entre estudantes, o padrão se inverte, com concordâncias sempre iguais ou superiores a 50%. Por exemplo, 50% dos alunos dizem que a reforma contribui para o maior interesse do jovem em se manter na escola. Entre professores, a proporção cai a 20% e, entre gestores, a 32%.

Um dado de certa forma surpreendente é a insatisfação com o aumento da carga horária, pois a elevação de quatro para cinco horas diárias foi um dos poucos pontos de consenso entre especialistas. Mas o percentual dos que consideraram isso ruim ou péssimo foi significativo entre gestores (40%) e professores (47%), além de majoritário (63%) entre estudantes. Considerando que há um movimento das políticas públicas de expansão da educação em tempo integral, esse é um aspecto que não pode ser ignorado. Se a escola não for atrativa e se o poder público não oferecer condições para que o aluno consiga se manter estudando sem precisar trabalhar, o resultado pode ser o oposto do esperado.

Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/antonio-gois/coluna/2024/04/percepcoes-sobre-o-novo-ensino-medio.ghtml

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